quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Que a Polícia Civil Tem; a Militar Quer e Nenhuma das Duas Merece

Continuarei na minha luta solitária em busca de uma Polícia Civil mais ágil, mais inteligente, menos burocrata.

Antes, porém, não poderia deixar de opinar sobre os últimos acontecimentos na esfera da Segurança Pública.
Apóio o que consta no blog do coronel Paúl. Penso que o major Wanderby luta por seu sonho, pelo que acha estar certo, por seu ideal. O capitão Alexandre também luta com seus moinhos de vento. Todos querem o mesmo de forma um pouco diferente, afinal são pessoas diferenes. Todos muito ligados, inteligentes e corajosos. Os três têm razão. Aliás a blogosfera policial está de parabéns. Precisamos urgentemente de melhorias salariais e de mudanças na maneira de fazer polícia. Penso, quanto aos salários, que um reajuste substancial, nem que fosse parcelado, traria alívio à categoria. Não me importo se continuarei ganhando menos que um capitão, um major. Não conheço o trabalho deles a ponto de compará-lo ao que desempenho. Sei que não é fácil pois ser policial no Rio de Janeiro não é. Alguns colegas da PC perdem tempo com bobagens, tentando comparar o incomparável e com isso deixando de apoiá-los, como se nós, Civis, estivéssemos em melhores condições. O que me interessa é que em o reajuste ocorrendo poderia voltar a manter meus compromissos em dia, com um pouquinho de folga.
Sou aquele macaco que olha o próprio rabo.


Quanto ao tópico


Raramente saio às ruas. Meu trabalho ficou limitado ao de digitador e pesquisador, afinal consultamos os arquivos disponíveis para a identificação dos autores de crimes, de acordo com o que as vítimas relatam.
Tenho certeza, porém, que se nos dedicássemos exclusivamente a nossa missão, que é a de investigar, teríamos um melhor sucesso. Refiro-me as ocorrências ( a maioria delas, aliás ) que tomam grande parte do nosso tempo, as elencadas na lei 9099/95, que resultam, em grande parte e após todo o procedimento tomado por nós, em pedido de desculpas no Fórum. Elas têm um prazo legal a ser cumprido, enquanto as mais graves vão ficando para segundo plano, caso de inquéritos que " rolam " por anos. E inquéritos policiais dizem respeito a apuração de crimes graves! As vítimas de tais ocorrências, as de menor potencial ofensivo, geralmente querem retratação, um pedido de desculpas de quem as xingou, caluniou, difamou, etc. No Fórum, três, seis meses depois de dada a queixa, elas já até esqueceram as ofensas e já perdoaram os ofensores... Percebemos que o ideal seria trazer o autor no momento da queixa e, em vez de perdermos tempo fabricando Registros de Ocorrências intermináveis, a questão seria resolvida ali, na DP, na presença de um conciliador. Afora aquelas que são prestadas por motivos escusos, tais como a pessoa que perde o celular e tem que dizer que foi roubada, a mando de sua operadora; as que os documentos são extraviados, e que para nós é dito que foi assalto, caso contrário pagarão pelas segundas vias.
Por exemplo, em dias como os de hoje, é razoável alguém colocar sua carteira com dinheiro e documentos sobre um balcão e ir ao banheiro achando que ninguém a levaria?
É razoável acrediar ter alguém a mochila furtada onde havia apenas o documento do carro e roupa de trabalho, enquanto demais pertences estavam no bolso? Da mesma forma, deixar o celular no carro com o vidro aberto e se ausentar por horas?; ser " assaltado " e na carteira estarem somente a CNH e os documentos do carro, se a pessoa estava em um ônibus? É sim possível, dirão alguns de vcs, mas na proporção em que ocorre duvido!
Então, se nós pudéssemos nos dedicar totalmente a identificar e prender autores de crimes cujas penas fossem a prisão e não um aperto de mão, nossa taxa de resolução daria um salto na qualidade e quantidade.
Se não tivéssemos de a toda hora parar de ler, de estudar um processo, para observarmos falhas, pormenores, detalhes, pistas, rastros de quem cometeu o crime, se não tivéssemos de parar a toda hora para fazer Registros de Ocorrências " natimortos " como chamo, a PC seria mais vista nas ruas, como nos anos 80 e certamente contribuiríamos para a sensação se segurança da população, tão ávida por ver "um policial em casa esquina".
Mas ...

Imagino ocupar a Polícia Militar com tais queixas. Alguém aciona 190 e uma viatura é deslocada para o local. Lá os policiais ouvem do queixoso que seu vizinho o xingou. Após isto, o vizinho, de quem só sabe o prenome saiu de casa. O que deve ser feito?
Ouvir a vítima. Ouvir o autor. Ouvir testemunhas e é bom que alguém tenha testemunhado o xingamento pois no Fórum raramente haverá punição porque será a palavra de um contra a do outro. Qualificar todos os envolvidos. Pesquisar em todo o sistema o que há contra eles e em havendo, mencionar no relatório final da investgação. Nas DPs Legais, o sistema operacional já marca a data da primeira audiência no Fórum. Esse é o tempo que dispomos para trazer o autor e testemunhas à DP. Porém a vítima sabe que o autor se chama Zé. Presume-se ser José. E como vamos qualificá-lo uma vez que intimado, ele não comparece à DP, talvez orientado haja vista " se a polícia não sabe teu nome completo, não poderá te indiciar"! E como os colegas PMs farão para, no dia seguinte, ouvirem as pesoas restantes? Onde estas serão ouvidas? Nos Batalhões? Pensem no acúmulo de ocorrências a cargo de cada dupla de policiais militares, que no outro plantão terão de correr atrás do autor que não que ser encontrado. E nas outras que vão se somando. Existem companheiros que estão com 200 (!) investigações em andamento. Muitas de meados do ano passado. Pensem em estarem debruçados no capô da viatura preenchendo formulários alheios ao que cocorre ao redor. Em não poderem ou não terem como perseguir meliantes. Vocês acabarão como nós. Se empenhado ao máximo em resolver tais questiúnculas, enquanto os criminosos aterrorizam ainda mais a população.
Algo precisa ser feito.
Nenhum policial merece!