Antes de tudo, precisamos deixar bem claro que, salvo raras excessões, o policial prefere trabalhar na sua verdadeira vocação, qual seja a sua atividade policial, a trabalhar em qualquer tipo de bico, seja ele oferecendo segurança ao seu Manoel da padaria ou protegendo uma estrela internacional. No entanto, a política salarial praticada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro praticamente obriga policiais honestos a terem um segundo emprego para manter sua dignidade financeira e de sua família. Ocorre que a mecânica desse tipo de realidade coloca o agente de segurança pública numa situação onde seu trabalho policial " prejudica " o seu bico. O policial só tem mercado de trabalho em segurança privada porque o Estado não é capaz de fornecer segurança de qualidade a toda a sociedade. Com isso, uma polícia mal paga e eficiente condenaria seus agentes à penúria pois não seriam oferecidos bicos na iniciativa privada para os policiais complementarem sua renda. Dessa forma, aqueles que deveriam trabalhar em prol da sociedade, se veem na situação de ter que contar paradoxalmente com a sua própria ineficiência para conseguir um segundo emprego. O raciocínio é simples: você é mal remunerado, por isso precisa ter dois ou mais empregos para viver dignamente. Porém, só os consegue se for ineficiente no seu emprego principal. Caso seja eficiente, o bico, que te dá certa dignidade, vai ser extinto porque desnecessário. No entanto, a remuneração que te dava dignidade vai deixar de ser necessária para quem te contratava e você e sua família estarão fadados à penúria. É a lógica do quanto pior, melhor. É a lógica da segurança pública do Rio de Janeiro! Ao longo dos anos, os policiais civis e militares foram vítimas de inúmeras manobras para diminuir seus salários e, curioso, é que a arrecadação de impostos, taxas e etc cresceu mais que o dobro! Por que isso ocorreu? A resposta é simples. Os governantes, em vez de utilizarem o dinheiro que poderia e deveria ser gasto com os funcionários, o fizeram em obras clientelistas e programas eleitoreiros de mesmo quilate. O que restou? Ser um policial eficiente e morto de fome ou um ineficiente com um bom segundo emprego que vá te proporcionar dignidade salarial? Por isso, não me falem em segurança pública antes de uma remuneração digna. Os fatos ocorridos no cotidiano provam esta lógica. O que se quer - e juntos, com força e honra vamos conseguir -é mudar a situação degradante em que hoje se encontra a maioria dos policiais deste estado; é elevar o cidadão policial ao lugar que ele merece, como um defensor da sociedade a que pertence, e que por ela morre, e tem morrido em grande número, intolerável número, sem o devido reconhecimento e valorização pessoal, indispensáveis ao bom desempenho profissional de qualquer trabalhador.
Adaptado do texto do Oficial de Cartório Carlos Gadelha/2º vice-presidente do SINDPOL
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
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