terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Podemos ser (mais) úteis?

A fim de tentar minimizar o trauma de quem é roubado, o governo do estado isenta as vítimas do pagamento de Duda para a retirada de documentos emitidos pelo DETRAN, sejam eles pessoais - CNH e Identidade - ou os do veículo. Boa idéia. É louvável.
O crime de roubo é aquele em que o autor usa de violência ou grave ameaça. Ele pode estar armado com fuzil ou mesmo desarmado. É o caso de um faixa preta fortão com 20 anos que se aproxima de uma velhinha de 80 e manda que ela lhe entregue a bolsa senão a mata. Haveria como ela resistir?
Mas eu não quero fugir do assunto.
Aí a vítima vai até a DP onde é feito o RO e além deste documento ela leva um outro que a encaminha ao DETRAN isentando-lhe de pagar para retirar aqueles documentos. A ela mostramos álbuns fotográficos. Já ocorreu de outros criminosos serem reconhecidos nesses álbuns. É raro mas acontece. Encaminhamos também cópia da ocorrência ao Batalhão da área, ao IFP, ao próprio DETRAN, à DRFA...
Ocorre que a " benesse " também foi estendida a quem é furtado. Furto é quando, por exemplo, deixamos o carro ali na rua e vamos ao banco. Ao voltar não o encontramos mais e temos a certeza de que ele não foi rebocado.
O diabo é que em um país em que a população ganha tão pouco qualquer trocado que se economize é bem-vindo. Então " se eu perdi meus documentos tenho de pagar para ter as segundas vias porém se eu tivesse sido roubado ou furtado... Ei. Perae. Tive uma idéia!"
Os tímidos geralmente contam que foram furtados. Não sabem onde, nem como, nem quando " só sei que fui furtado " e sequer admitem a hipótese de terem perdido a carteira. " Não! Eu tenho absoluta certeza que alguém deve ter metido a mão no meu bolso ".
Já os mais saidinhos afirmam, geralmente sem olhar para a cara do policial que o está entrevistando, que " eram três e estavam armados" ou " eram negros, de roupa preta, em um carro preto ".
A experiência acaba fazendo com que percebamos que a " vítima " está faltando com a verdade. Mas vá o policial tentar desmascará-la ali na DP, na frente de todos. Seria muita insensibilidade. Fingimos que acreditamos e pronto. Mas há casos e casos, porém.
Disse tudo isso para poder vincular este post ao anterior onde perguntei ao cidadão se ele quando aciona a polícia - seja militar ou civil - está certo de que não resolveria seu problema de outra forma. Isso porque nestes casos dos Registros de Ocorrências Sociais também há, e muito, desperdício de nosso tempo que poderia ser utilizado na tentativa de se investigar o autor de estelionato, de saidinha de banco, de homicídio...
Nada tenho contra não cobrar taxa para emissão de documentos; pelo contrário. Penso que em nenhuma hipótese deveria sê-lo, mas já que é assim não existiria outro órgão estadual que pudesse emitir tais isenções? Temos mesmo que fazer ROs para isso?
Sugiro o seguinte: teve os documentos furtados? As atendentes das DPs fariam um Registro de Extravio de Documentos onde constaria que a pessoa se compromete a retornar à DP caso os documentos fossem utilizados de forma fraudulenta. Seria então feito um Registro por nós, policiais, para tentar se chegar ao autor. Ou seja, registar para investigar e não registrar para arquivar.
Não é difícil imaginar quantos Registros de Ocorrência deixariam de ser feitos e proporcionalmente quanto tempo a mais teríamos para investigar criminosos de verdade que tanto mal fazem à sociedade.
Seríamos mais úteis.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pensei em algumas palavras para comentar seu post, mas nada se encaixa melhor do que: PARABÉNS.

Enquanto o Estado burocratizar tudo, não haverá tempo para fazermos nada. Como pode um policial desenvolver um trabalho SÉRIO de investigação se ele está ocupado fazendo registros inúteis?

Assim como também são inúteis vários procedimentos adotados na PCERJ, como, por exemplo, exames periciais de descrição de caneta, chave de fenda, tesoura, bloco de papel, saco plástico, clips, etc.

O dia em que os governantes perceberem que o policial deve estar voltado para sua atividade precípua, quer seja, a investigação de crimes, e não realizando atividades meramente burocráticas, a Segurança Pública dará o primeiro passo para sair do fundo do poço.

Anônimo disse...

A verdade é que quem comunica falsamente um crime à polícia ou dá ensejo à instauração de um procedimento policial sabendo que náo se trata de um crime não passa de um infrator. Ocorre que os delegados de polícia, dirigentes das Polícias Civis, não têm coragem para dar o devido andamento ao caso. Tenho convicção de que um erro não justifica o outro, isto é, pelo fato da população utilizar indevidamente os registros policiais nós deveríamos acabar com estes. Isso é uma verdadeira sandice.
Raphael Ferrari
Of. de Cart.
DAS/PCERJ